terça-feira, 28 de maio de 2013

chovendo em Curitiba




Era menina de vestido listrado 
O cabelo preto e os pés descalços
E você um vulto ligeiro de alguém que tinha acontecido e ficado no passado 
E eu cresci, chorei, aprendi poesia.
Comprei livros...
E você casou e teve filhos...

O mundo estupidamente girou com você longe 
Nem percebi quando voltou e chegou para ficar 
Não para ficar junto como bela lembrança 
Mas para ficar como feia cicatriz 
Daquelas que ardem no olhar

Os amores perdidos no inverno doem o dobro 
Não ousem discordar

Quando se preparou para partir 
Meu coração quis pedir para ficar 
Por sorte meu orgulho o fez calar com tapas
Meu sentimento me jogaria
a seus pés 
Mas minha vaidade me deteve...

E não chorei 
Nem depois do adeus 
Quando estava só 

Encarei meus olhos no espelho e lá vi 
Uma mulher debochando de uma menina 

Na manha seguinte
Amanheceu chovendo em Curitiba 
Eram as lagrimas que não pude derramar 
Amanheceu trovejando em Curitiba

Esses eram os gritos de "fique eu te amo" que não pude dar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amados Campos Verdes



sei que faz frio nessa 
época
mesmo a qui posso 
senti-lo
meu amado 
veja só a vida essa 
pequena tolice
veja só o que ela 
me fez 
tirou o brilho dos meus olhos e a vivacidade da minha voz

mas por isso eu também poderia culpar você...


meu amado rapaz a vida é o vento na janela que as vezes nos engana finge ser algum demônio da noite

querido o amor foi um filho nosso que não vingou

mas mesmo em tempos bárbaros o amor ainda é o amor e o perdão ainda existe
nesses tempos a vida é ainda mais curta

por isso pegue seu cavalo cruze os campos até que a terra acabe ai então se lance ao mar

iria junto mas a vida é má ela decidiu que tenho de ficar junto da montanha a sombra das arvores no leito do rio

mas você é jovem é livre querido pode ir 
deve ir
mas me deixe um ramo de flores um adeus bem dado 
me deixe uma saudade digna para chorar...

sábado, 18 de agosto de 2012

FALAM DEMAIS...




Falam e falam

Suas bocas se movem como vermes

Competem em conhecimentos sem nenhuma 

sabedoria

As palavras saem e saem 

como pombos de uma catedral 

corrompida

Já percebi que palavras são como ventos

Algumas como suaves brisas

Outras como violentos tormentos

Tão invejosos tão ciumentos

Como posso bem para eles querer?

E assim vai

Passam os dias

Correm os meses

Voam os anos

Meus velhos fantasmas

Estou tão farta de caos e paz 

Mais tão farta que

Sinto-me inflar como balão prestes a explodir

Sim vou explodir e então serei eu por todos os 

lados!

terça-feira, 15 de maio de 2012

meu quarto





No meu quarto existem duas camas 
Uma para mim 
Outra para meus sonhos
No meu quarto vivem centenas de historias 
Milhares de nomes
Infinitos lugares
No meu quarto existem 
Crianças que nunca crescem
Vivem lá anjos e demônios
 Invejando-se mutuamente
Tem um rei vigiando a porta
Também um monstro sem cabeça
 E com dez corações
E toda a vez que abro a janela 
Voam vulgares pardais

sexta-feira, 11 de maio de 2012

BEM LONGE






Sabe aquele frio que vem no fim do verão trazendo as velhas lembranças numa xícara de café
Tem alguém que na janela vendo a vida de camarote
Com livros abertos no chão
Relendo poesias velhas de homens mortos
Helena, Vinicius e Fernando.

Querendo chegar lá mais onde é lá
Será que é a montanha que está crescendo

O frio está entrando pelas frestas da porta agora vai congelar

Há mil anos tinha uma balança no quintal
Um bebê no berço
E as borboletas pousavam nas roupas do varal

Na garoa gelada da tarde caem milhares de tristezas
Em pé na varanda vê os telhados das casas
Fechadas
Com pessoas fechadas
Bem longe da rua da infância.






quarta-feira, 2 de maio de 2012

Azul



Deus gosta de azul

Veja só céu

Veja só mar

Tenho também seus olhos para provar

terça-feira, 17 de abril de 2012

Casa velha


 


Derrubaram a arvore
Carregada de pêssegos
Demoliram as paredes
Disseram - vá embora aqui não é seu lugar
Enxotaram meu cachorro
E fogo queimou meus versos
Derreteu a tinta de meus quadros
Mais foram as lagrimas que nublaram minha
 
visão
Corri por dez anos com a chuva
Caindo em minhas costas nuas
E feridas
E foi tempo de medo e abandono
As flores afogadas na fumaça morriam
Como vitimas inocentes
E eu nem pude me despedir
Quando passo
pela rua vejo
Naquele novo lugar
Minha casa demolida
Algo se revolta em mim 
Mais conformada como estou obrigo a seguir
E deixar para trás o lugar onde nasci.